domingo, 17 de abril de 2011

Charles Baudelaire: O poeta esgrimista 

"Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te. E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:
«São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto.»

Charles Baudelaire: "O Spleen de Paris"

2 comentários:

  1. Charles disse: "Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto".

    Custódio diz: "Por que nós outros não fazemos uso da 'droga' da poesia - a nosso gosto - e vivamos intensa e incessatemente embriagados??? Talvez porque adotamos a primeira opção de Charles... pior: talvez PORQUE pensamos ter adotado a última e miserável sugestão de Charles: pensamos que nos embriagamos de... VIRTUDE!!! Agh... que coisa mais à moda... humana!!!
    "Todo poder ao Indivíduo"

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  2. "Já é tempo de levar de fato a sério advertências como as de Blanchot, que orientam o modo como pessoas deveriam se relacionar e se envolver com a poesia e a literatura, [..]. É necessário que as sabedorias e os bons sensos que a própria literatura exala e exalta sejam afinal respeitados. A literatura "não como realidade definida e segura, como conjunto de forma e nem sequer como modo de actividade apreensível: antes como qualquer coisa que nunca se descobre, nunca se verifica e nunca se justifica directamente", já que a "essência da literatura é escapar a toda determinação essencial, a toda afirmação que a estabilize ou a ralize: nunca já está lá, está sempre por encontrar e por reinventar".

    Carlos Eduardo Schmidt Capela, in Poéticas do Olhar.

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