quarta-feira, 20 de abril de 2011

O sol

Pois ao longo da viela em que, pelas mansardas,
Persianas fazem véu às luxúrias bastardas,
Quando o sol reverbera, imponente e inimigo,
Sobre a cidade e o campo e sobre o teto e o trigo,
Eu ponho-me a trinar em minha estranha esgrima,
Farejando por tudo os acasos da rima,
Numa frase a tombar como diante de obstáculos,
Ou topando algum verso há muito em nossos cálculos.

Charles Baudelaire

Um comentário:

  1. ==> O Sol <==

    "Este pai nutritivo, a odiar sempre o que enferme,
    Pelos campos desperta a rosa como o verme;
    Faz as mágoas voar de que as almas são cheias,
    Enchendo o pensamento ao encher as colméias.
    Ele é quem dá o alento aos que vêm de muletas,
    Dando-lhes um frescor de jóias ou violetas,
    Para ordenar depois que amadureça a messe
    No coração eterno, o que sempre floresce!

    E quando vai à rua, à maneira de um poeta,
    Ele sabe aureolar a coisa mais abjeta.
    Sozinho e sem rumor, como um rei se introduz
    Nos hospitais da mágoa e nas mansões da luz!"

    "Todo Poder ao Indivíduo"

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