terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O QUE QUER ESSE GOVERNO?

 Qual é o real valor de um professor em educação básica para uma sociedade? Pela lógica, em pleno século XXI, essa é uma pergunta que não precisaria mais ser feita. No entanto, cada vez mais, somos levamos a buscar respostas para esse questionamento. Apesar de estar comprovado, por todas as espécies de estatísticas, que o professor em educação básica é o alicerce de uma dada sociedade, ao que tudo indica, alguns fazem questão de ignorar esse profissional. Ignorar, neste contexto, significa simplesmente que somos vistos, por alguns, como uma categoria que serve apenas como massa de manobra.
A sociedade é um sistema. Ora, o sistema, por um lado, é formado por pessoas que têm o poder de elevar ou diminuir o status de determinadas profissões, por outro lado, estão as pessoas que são submetidas às leis mais absurdas criadas com o objetivo de manutenção da ignorância. Não sendo ingênuos, sabemos que o status, num sistema capitalista, vem acompanhado do poder de influências e de uma recheada conta bancária. Qual é, então, a visão que o governo do estado de Goiás tem em relação ao professor da escola pública estadual, quando propõe absurdas mudanças na Lei 13.909?  Lamentavelmente, o que conseguimos perceber é que para ele não passamos de uma mera peça que, permanecendo na ignorância, cumpre perfeitamente o que é traçado pela elite capitalista.  Um professor desestimulado, sem perspectivas, não pode realizar um bom trabalho. Então, a consequência é uma péssima educação formal para a grande maioria (a classe de baixo poder econômico) que mantém seus filhos em escolas públicas. Daí a persistência em conservar a categoria de professores como subsistema.
Diante disso, enxergamos claramente que as mudanças no plano de carreira, propostas pelo governo, têm a função de mostrar quem define quais profissões devem ou não ser levadas a sério. Como é possível a legitimidade de incorporar ao salário valores já adquiridos para simular que o estado cumpre a lei do piso nacional? É lícito que os salários daqueles professores que não realizaram cursos de aprimoramento sejam equiparados aos dos que procuraram se aprimorar? É aceitável que professores de mesmo nível, atuando no mesmo órgão, recebam reajustes diferenciados? É extremamente absurdo, conceder 30 por cento para aqueles que não fizeram cursos e, por outro lado, outorgar apenas 10 e 20 por cento para quem cursar mestrado e doutorado, respectivamente. Pior ainda, é enfatizar em propagandas que almejar a progressão horizontal é uma opção, não uma obrigatoriedade, pois afinal de contas, serão apenas 20 por cento de contemplados por vez. A progressão horizontal sendo ressaltada como optativa é uma forma peçonhenta de enfraquecer o desejo de aprimorar. Esse governo sabe que um professor não consegue arcar com os custos de um curso de mestrado ou doutorado com o salário que recebe. Ademais, é ciente de que os professores não dispõem de tempo hábil para se preparar e ingressar em uma pós-graduação, devido à excessiva carga-horária. Sendo assim, tudo o que está posto no novo plano de carreira é proposital, ou seja, tem o objetivo de denegar aos professores o desejo de se aprimorarem, além de negar, também à população de baixa renda o acesso à intelectualidade.
A educação básica formal e os professores, profissionais intelectuais, não podem simplesmente ser encarados como meros números capitalizados, pela ótica de alguém que sabe apenas manobrar números, mas não sabe coisa nenhuma de educação.
Agindo dessa forma, o que o governo consegue é manter as coisas como estão, ou seja, a manutenção do cárcere do professor. Diante desse caos, não há intelectual que seja capaz de suportar e, num futuro muito próximo, veremos a educação formal de Goiás sucumbir. Se a educação em Goiás estivesse sendo levada a sério, a melhor solução seria cumprir a lei do piso nacional, sem alterar o plano de carreira.
Alguns, por motivos óbvios, dirão que as mudanças no plano de carreira têm o objetivo de melhorar o ensino em Goiás e que essas mudanças podem trazer desconforto e resistência. Para eles, o desconforto é considerado algo natural, já a resistência sempre vem acompanhada de duas palavrinhas retóricas: a mais arcaica – politicagem, a mais moderna – terrorismo. Taxar a nossa resistência de politicagem e terrorismo é a mais antiga maneira de tolher a liberdade de expressão, com a intenção de evitar que sejam mostrados os abusos de poder desse governo.

Edineia de Lourdes Pereira
Professora em língua portuguesa, inglesa e literaturas correspondentes
Especialista em Docência Universitária
Mestranda em Estudos Literários
E-mail: edineia61@hotmail.com

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